Oi, como vai?
Bom, meu nome é James, e eu tenho 14 anos.Vivo no Orfanato Estadual de Brighton, na Inglaterra. Estou aqui desde sempre e com o passar dos anos finalmente entendi que as chances de ser adotado estão ficando cada vez menores. Eu não gosto do orfanato; por ser o mais velho aqui, me fazem trabalhar bastante e a vida é um tédio. Só não é pior porque eu tenho a Anne.Ela tem 13 anos, cabelos loiro-escuros, olhos extremamente verdes e é quase uma cabeça menor que eu.Ela também está aqui desde muito pequena e é minha única e melhor amiga. Antes eu tinha medo de adotarem-na, mas acho que, agora que ela também já cresceu, as chances de adoção são minúsculas. Não digo isso a ela, não sei como ela reagiria.
Já passei muitas coisas com ela, experiências boas e ruins, já nos encrencamos várias vezes. Mas há um episódio que foi ótimo, e eu nunca me esquecerei dele.
Foi perto do Natal, Anne tinha completado 13 anos há menos de 72 horas. Eu acordei às 9 da manhã, me vesti e desci para me juntar aos outros órfãos. Minha amiga me esperava na escada, sorrindo.
-Bom dia. -Eu disse.?
-O mesmo para você. Temos um novatinho. -Anne me puxou pela mão até a mesa de café da manhã e nos sentamos perto de um garotinho de rosto desconhecido.
-Olá. -Cumprimentei.
-James, esse é o Peter.
-Seja bem vindo. -Falei, e o garotinho me respondeu com um sorriso tímido.
Tomei o meu café da manhã e me levantei. Anne veio atrás de mim.
-Gostei dele. -Comentei, quando me vi sozinho com Anne no pátio dos fundos.
-Eu também. -Ela riu. - Eu o achei muito parecido com você.
-Por quê?
-Não sei. -Anne respondeu, quando ouvimos passos lentos. Meio minuto depois, para nossa surpresa, Peter saiu do corredor.
Ele é realmente muito parecido comigo, pensei. Os mesmo cabelos negros e lisos, caindo em uma franja reta pouco acima das sombrancelhas, a pele extremamente clara e os olhos fundos e também muito negros.
-Oi. - Ele disse, baixinho. - Po- Posso ficar aqui com vocês?
-Claro, Peter. - Disse Anne, caminhando para perto dele. Caminhei até lá e me ajoelhei em uma perna para ficar da altura do garotinho.
-Claro que você pode ficar conosco. -Eu disse. - Mas por que você não quer brincar com os outros?
-Não posso. - Ele disse, tristonho. - Os outros garotos não deixam.
-Fique conosco, então. - Disse Anne, pegando Peter no colo. - Nós somos mais legais.
-Ei, Peet, - Eu disse, inventando um apelido para o garoto que tanto se parecia comigo. - Quantos anos você tem? - Ele levantou quatro dedinhos da mão esquerda e me mostrou.
Passei o resto da manhã conversando com Anne e Peter.
Depois do almoço, Peet tirou um cochilo e Anne e eu voltamos a falar sobre ele, no meu quarto.
-Perguntei aos outros por que eles não deixaram que Peter se juntasse a eles quando estavam brincando. - Contei. - Eles disseram que é porque ele é estranho.
-Estranho? - Disse Anna, pasma. - Ele é melhor que todos os outros juntos! Olhe, James, vamos nos esforçar para que Peter não saiba disso, ok? Não quero vê-lo triste.
-Tudo bem. Anne... quando eu cheguei aqui o mesmo aconteceu comigo, sabe? Eu quase não me lembro dessa época, mas sei que foi péssimo. Tudo aqui era péssimo até você chegar.
-Depois que eu cheguei melhorou?
-Sim. Sabe, eu tinha alguém que pudesse me fazer sorrir.
-Você se lembra de quando todos foram sendo adotados e só sobramos nós dois? Nós nos sentimos excluídos, humilhados... Foi bem ruim.
-Mas nós conseguimos enfrentar aquilo, né? Um ajudando o outro.
-Sempre juntos. - Disse Anne, dando um bonito sorriso.
-Vou pedir para trazerem Peter para dormir no meu quarto. Não quero que ele divida o quarto com garotos que não gostam dele.
-Eu já disse que você é incrível?
-Sim. - Eu disse. - Mas é algo muito bom de se ouvir várias vezes. - Eu estava mentindo, Anne nunca tinha me feito um elogio tão forte.
-Mudando de assunto, o que você quer de natal? Ainda é a Susan?
-Não sei. - Eu disse, pensando numa garota bonita da escola, um ano mais velha que eu.
-Não sabe, é?
-Bom, talvez ela seja só uma garota bonita. Eu nunca conversei com ela.
-Jammie, não minta para mim.
-Não estou mentindo, An!
-Eu sei que não. Eu convivo contigo por tempo suficiente para saber quando você mente. Até porque você mente muito mal. -Ela disse. - Mas, então, o que você quer de natal?
-Uma bola de rugby nova. Ou algum livro, de preferência do Verne ou do Sir Arthur Conan Doyle.E você?
-Algum livro.Qualquer livro.
-E para o Peet? - Perguntei, automaticamente.
-Meu Deus! Não sei! Talvez uma bola de rugby também.
-Ele ainda é muito pequeno para enfiarmos livros nele, né?
-Ele provavelmente não é alfabetizado, James. E você não pode dar romance policial nem aventura para um garoto de quatro anos ler.
-Eu sei que não! Você acha que eu daria livros desses gêneros para ele?
-Eu sei que você daria, você é louco por esses livros.
-Mas não com quatro anos! Talvez com seis ou cinco... - Eu disse, fazendo Anne rir. Ouvimos um toc toc na porta, Anne foi abrir.
-Peter! - Ela disse, sorrindo, e eles entraram pelo quarto.
O que aconteceu depois disso é meio incerto, os primeiros momentos foram os que ficaram em minha mente. Também lembro da noite de natal, na qual, com muito custo, eu e Anne juntamos dinheiro para comprar uma bola de rugby pequena para o nosso pequeno amigo. Com algumas libras que sobraram, comprei uma adaptação para crianças de A Volta Ao Mundo Em 80 Dias, ignorando os olhares de desaprovação que Anne me lançava.De qualquer forma, na hora de colocar Peter na cama ela veio até meu quarto e leu um capítulo do livro para ele.
Me lembro, também, de quando as aulas voltaram.Anne e eu nos enrolamos bastante com as lições até aprendermos a dividir o tempo entre os deveres e brincar com Peter. Quase sempre fazíamos todos os exercícios enquanto Peet tirava seu cochilo depois do almoço.
Eu nem pensava mais na Susan, todos os meus pensamentos estavam na Anne e no Peter, que era como um irmão mais novo, agora.
Então chegou um dia que foi um dos piores da minha vida, com certeza.
Eu cheguei da escola e Peter veio correndo até mim.
-Hoje mais cedo vieram aqui um moço e uma mulher, e eles disseram que gostaram de mim! Eles disseram que querem ser meu papai e minha mamãe!
Fingi um sorriso, Anne, ao meu lado, engoliu em seco. Peter saiu pulando e sorrindo até a mesa do almoço.
-Ele vai ser adotado... - Disse Anne. - Que bom para ele, né?
-É. Vai ser triste, mas não podemos ser egoístas.Não podemos nos chatear com a felicidade do Peet.
-Foi como ter um irmão, ou até mesmo um filho. - Disse Anne.
-Temos que aproveitar as últimas horas com ele. - Eu disse, e foi sob esse objetivo que passamos os dias que se passaram, muito rapidamente, até o sábado, quando vieram buscar Peter. Ele já estava semi-alfabetizado, Anne e havíamos ensinado. Ele já gostava de Verne e Sherlock Holmes era seu herói.
Foi duro quando tivemos que nos despedir do nosso pequeno amiguinho. Fomos com ele e seus novos pais até a calçada, onde ele me deu um abraço apertado e deu um beijo no rosto de Anne."Muito obrigado.", ele disse, quando entrava no carro.
-Vocês foram como pais para mim. - Ele disse, fazendo com que os meus olhos e os de Anne se enchessem de lágrimas. - James, eu sempre vou me lembrar de você a cada linha dA Volta Ao Mundo Em 80 Dias que eu ler, e Anne, eu sempre vou dormir lembrando de você lendo para mim, aos pés da minha cama, naquela noite do Papai Noel. Agora eu tenho que ir.
Peter entrou no carro com seus pais e acenou da janela quando o carro foi ligado.
Anne começou a chorar realmente quando o carro começou a andar, e eu passei meus braços por trás dela.
-Ele vai ficar bem sem nós. - Eu disse.
-Ele vai, ele é muito esperto. - Ela soluçou. - Mas e nós? Nós ficaremos bem sem ele?
Eu a abracei com força e comecei a chorar também. Não sei por quanto tempo nós ficamos ali, abraçados e chorando.
Agora, meses depois desse acontecimento, ainda sinto falta de Peter. Anne ainda chora, às vezes.
Algo que eu acho surpreendente é que, enquanto tínhamos Peet conosco, meus sentimentos pela Anne mudaram. Eu sinto cada vez mais vontade de estar perto dela e de abraçá-la, mas não sei exatamente o que é isso.
Peter nos visita, de vez em quando. São dias maravilhosos, para mim e para Anne.
Outra surpresa foi quando, semanas atrás, Anne veio até o meu quarto, trazendo o assistente social responsável por quase todas as crianças do orfanato e ele comprovou uma das suspeitas da loirinha:
Peter é meu irmão.
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Depois de muito tempo sem postar aqui, eu volto com esse texto. Espero que gostem, por mais que no ínicio ele tenha ficado mais organizado e no fim quase virou doce, de tão condensado. -QQQQQ
Bom, quem quiser, comente.
Muito obrigada,
Bárbara Contarini.